Águas de integração
A Expedição Seival vai navegar as águas do projeto da Hidrovia Brasil – Uruguai. Tem como nau capitânia a reconstrução de um lanchão comandado por Garibaldi, na guerra civil farroupilha (1835-1845), que também transcorreu no teatro naval das mesmas lagoas e rios. Os lanchões eram embarcações adaptadas das chalupas, faluas e sumacas, nos primeiros séculos da colonização europeia, para as águas do “mar de dentro”, formado pelas lagoas dos Patos e Mirim, às quais se conectam com significativos rios e arroios. Por séculos, os lanchões singraram as artérias do continente. Seus mastros e velas sinalizaram povoamentos, seus cascos desembarcaram gentes entre os povos originários para instalarem arraiais, soldados para enclaves de guarnições, funcionários para o expediente de Estados.
No continente das águas, os barcos foram historicamente tão vitais que os próprios exércitos de terra os carregavam em carretões para navegar e atravessar os espaços líquidos fluviais, lacustres, lagunas ou estuários. Com esse método, corsários e comerciantes, faziam conexões entre bacias hidrográficas, a exemplo da ligação pelo campo entre o rio Negro e a lagoa Mirim. Garibaldi conheceu esse hábito e o adotou para o transporte dos lanchões farroupilhas pela planície costeira rio-grandense até o Atlântico, em 1839. A gesta dos americanos ganhou o mundo na ação garibaldina, laudada em seu diário.
Após as independências, os governos usaram o espaço líquido de quilômetros de águas naturais navegáveis. Fizeram interferências com obras para potencializar a navegação. Todavia, na contramão de outras nações, veio o abandono, os equipamentos foram sucateando, os projetos abandonados, o mundo líquido assoreando… Mas eis que agora, a força do bom-senso parece querer acordar dessa letargia com o projeto da Hidrovia Brasil – Uruguai.
É nessa conjuntura histórica que o Seival infla as suas velas, em dezembro de 2023, para singrar as rotas dos seus portos hidrográficos e comunidades impactadas. Águas verdadeiramente da integração. Espaço solidário, econômico, cultural, ambiental, turístico, de desenvolvimento da navegação e seus conhecimentos agregados. A bússola do histórico Seival conduzirá seu casco de história, reflexão e futuro, pelas rotas de anunciação da boa nova e as suas implicações humanas por Porto Alegre, Rio Guaíba, Barra do Ribeiro, lagoa dos Patos, Pelotas, Canal do São Gonçalo, lagoa Mirim, rios Jaguarão, Tacuary, Cebollati, arroio São Miguel, Santa Vitória do Palmar, São Lourenço, Lagoa do Graxaim – rio Camaquã, Arambaré e Itapuã. Em cada ancoragem, o Seival servirá de convés de conversação sobre a importância das águas, do conhecimento histórico, da solidariedade entre povos, e da preservação do meio-ambiente.
Bons ventos à Hidrovia Brasil – Uruguai!
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